ATTAC. Activistas europeus contra a globalização reúnem-se em Lisboa a pensar na crise - jornal i

12-01-2013 11:40

Artigo publicado ontem, sexta-feira, no diário i.

 

Os delegados das filiais europeias do movimento ATTAC (Associação para a Taxação das Transacções Financeiras para a Ajuda aos Cidadãos) estão hoje Lisboa para uma reunião de três dias, durante a qual vão programar e debater os objectivos do movimento que teve origem em França em 1998 e que encabeçou no início do século as manifestações contra a globalização. De acordo com David Ávila, dirigente da ATTAC Portugal, “em termos gerais os temas da reunião da rede europeia são vários mas incidem maioritariamente na situação económica”.

Os cerca de 20 participantes de 12 países vão estar concentrados em fazer “uma análise política da crise actual, do momento que a Europa vive e das políticas económicas que estão a ser adoptadas”, por forma a encontrarem uma estratégia alternativa para os próximos tempos. “As mais interessantes de todas são as campanhas que estão a ser discutidas, não posso adiantar muito sobre elas em particular, mas existem três propostas. Uma é sobre o imposto sobre a riqueza a nível europeu, outra é à volta da dívida pública e a terceira é uma campanha em torno da actuação do Banco Central Europeu”, acrescentou quando lhe perguntámos sobre as grandes questões em cima da mesa.

Com cerca de 25 mil militantes na Alemanha e vários dezenas de milhares em França – onde, durante a votação da constituição europeia, a ATTAC teve “uma presença bastante forte” –, a filial portuguesa conta, segundo Ávila, com cerca de 1200 contactos na sua lista. Do encontro de três dias vai fazer parte também uma sessão pública, agendada para hoje às 18h30 no Cinema São Jorge, e que contará com a participação de três dos 20 delegados – Cristina Asensi, de Espanha, Gunnar Skuli Armannsson, da Islândia, e Benedikte Hansen, da Noruega. Por seu turno, no sábado, haverá uma tarde de celebração, uma vez que é o décimo aniversário da criação oficial da ATTAC Portugal.

Com o objectivo de anteciparmos o que vai ser discutido, estivemos à conversa com o representante islandês, que defende que as medidas de austeridade implementadas em Portugal e na Islândia “são semelhantes em termos de concepção, mas diferentes em termos de magnitude”. “Penso que temos a versão light em comparação com os países do Sul da Europa”, explica. “Fizemos o caminho do costume, salvámos os bancos sob supervisão do FMI. Os contribuintes foram os prejudicados. Exportámos o nosso desemprego. A dívida da Islândia em moeda estrangeira é tão grande que temos dúvidas se conseguirá pagá-la nos próximos tempos.”

Quanto à austeridade, o islandês diz que as medidas adoptadas têm sido “uma parte da solução” e que nesse aspecto o país está numa posição melhor que os que estão dentro da zona euro. A indústria de exportação apresenta sinais de recuperação e o turismo está a “florescer”. No entanto, este não é o caminho que o delegado que escolheria. “Fazia com que os 1 por cento responsáveis pela crise a pagassem e não os contribuintes. Estas medidas estão totalmente erradas porque as pessoas comuns estão a ser obrigadas a carregar um fardo que não lhes pertence.”

Quando lhe perguntamos como a crise o afectou a si e à sua família, a experiência de Armannsson é semelhante à nossa. “Os salários diminuíram, os empréstimos das casas aumentaram, algumas pessoas estão em falência técnica e muitas em termos reais. Muitos mudaram--se para o exterior e muitos homens tiveram de ir trabalhar para a Escandinávia, ficando longe das suas famílias.”

A ideia da criação da ATTAC nasceu em Dezembro de 1997 a partir de um editorial de Ignacio Ramonet, publicado no jornal francês “Le Monde diplomatique” e intitulado “Desarmar os mercados financeiros”.

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