A insuportável leveza, pequenez e sem vergonha destes governantes - Henrique de Sousa

15-04-2012 22:21

 

Sim, foram eleitos prometendo o contrário do que agora fazem. São fracos com os fortes e fortes com os fracos. Desmantelam o Estado Social e desviam os dinheiros das contribuições da Segurança Social. Degradam e desvalorizam o trabalho, destroem o contrato social em que se funda a confiança dos cidadãos no Estado e na garantia dos seus direitos. Não têm palavra nem honra. Jogam o jogo do gato e do rato com reformados, pobres e trabalhadores. Mas não com banqueiros, grandes interesses, Merkel, capitais chineses e angolanos, de que são capatazes servis. É que o respeitinho para com os patrões  é muito lindo.

Sabem que é preciso andar depressa e aproveitar o tempo e a anestesia da malta para ajustar contas com um 25 de Abril que tinham atravessado na garganta.Afinal, somos todos culpados (todos?) e todos temos que expiar a culpa (todos?), não é? Que a dívida pública, a suposta razão, afinal não baixe, antes suba, desde que tudo isto começou, é pormenor secundário. Estamos no bom caminho, diz a troika e abanam o rabinho de satisfação os governantes. E também banqueiros, Mexias, e afins, que continuam a salvar os seus interesses e as suas rendas com a protecção deste Estado. Fraco com os fortes. Sempre forte com os fracos.

Agora, foram os mais pobres entre os pobres que levaram mais uma talhada. Pela mão daquele ministro com ar de menino de coro ou ajudante de missa que só andava de moto até que descobriu um Audi novinho para estrear. E que nos explica candidamente que com as novas e mais draconianas medidas aplicadas ao Rendimento Social de Inserção o Orçamento de Estado pode poupar 70 milhões de euros. Obrigando cada cidadão a apresentar nova candidatura anualmente. A fazer toda a via sacra da burocracia cada ano para obter um miserável subsídio temporário. Não. Não é sujeitar-se à natural fiscalização e avaliação permanente dos serviços para prevenir a fraude. É recomeçar todos os anos.É estigmatizar mais e mais os mais pobres entre os pobres. Quando se sabe que neste momento o tempo médio de permanência neste programa de apoio social é de 32 meses.

Mas não lhe deve pesar a consciência pelo sofrimento que causa, empurrando milhares de seres humanos para a exclusão social. Pela borda fora. Tem ar de quem vai à missa pelo menos todos os domingos, e assim lava os pecados para entrar no reino dos céus.
Ou seja: num momento em que a pobreza sobe e o desemprego aumenta, a preocupação do governo é cortar nos apoios sociais para minorar o sofrimento e assegurar a sobrevivência minimamente digna. É estigmatizar os mais pobres entre os pobres.

Percebe-se. Os banqueiros e rentistas da Lusoponte, da Mota-Engil, da EDP, dos Mellos e dos Espírito Santo, dos grupos privados de saúde e das outras PPP, o Jardim da Madeira, os beneficiários dos despojos do BPN, todos precisam de apoio e de garantir a satisfação das suas necessidades. E os mercados, essas feras insaciáveis, precisam de ser acalmados, sempre e sempre. Alguém tem que pagar-lhes o sustento.

Por isso, é que PSD, CDS e PS, distraindo-nos com querelas secundárias, estão tão unidos e apressados na votação de dois tratados europeus, hoje. Assim colocam na garganta da democracia e dos portugueses um garrote e um novo alibi para perpetuar esta austeridade para benefício de alguns e desgraça do país. Ganhando mais argumentos para o processo de destruição do Estado Social. Orgulhosos de serem "bons alunos" e os primeiros na UE a ratificarem os tratados.

É verdade que até a Alemanha adiou a ratificação para daqui a uns meses, depois de ver melhor em que param as modas e as eleições francesas. Mas a Alemanha manda e os nossos governantes, sem pinta de orgulho ou independência, com o PS à arreata em nome da "responsabilidade", são apenas caniches da Merkel, do Draghi que decretou a morte do Estado Social e do FMI.

Afinal, não é assim, explicando sempre ao pagode que a culpa não é deles, é dos patrões da troika e que compromissos são compromissos, que têm salvo o cavalinho da chuva até hoje?

A questão é: até quando? Porque a paciência tem (sempre) limites. E a revolta dos cidadãos comuns contra este estado de coisas torna-se inevitável. Falta saber se as esquerdas são capazes de vencer a compartimentação em capelas e partir à construção das alternativas que dêem sentido à revolta. Ou se o resultado e o sentido vai ser outro. 

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Henrique de Sousa, membro da ATTAC Portugal

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